segunda-feira, 26 de maio de 2008

Update (68 e tal)

Bem, um breve post só para dizer que me esqueci do mais engraçado.
André Glucksmann é um filósofo francês de quem nunca li nenhum livro e por isso não arrisco nenhuma "definição". No entanto, é sabido que na sua juventude foi um dos combateu, como maoísta, no Maio de 68 e que desde então se foi exprimindo política e filosoficamente, sobretudo contra todo o tipo de totalitarismo (do nazismo ao comunismo), numa posição semelhante à de Bernard Henri-Levy, mas também defendendo certas intervenções militarizadas em países como a Nicarágua e o Iraque. No ano passado, decidiu, contra um alegado imobilismo e sobrevalorização moral da esquerda francesa, apoiar abertamente a candidatura de Nicolas Sarkozy. Quando em Abril de 2007, o actual presidente francês se pronunciou contra a "ideologia" do Maio de 68, ficou preocupado e, juntamente com o seu filho, Raphael Glucksmann, o qual ficou chocado com as declarações de Sarkozy, mas ainda mais com o facto de esse ser o candidato apoiado pelo seu pai, que sempre lhe havia falado do Maio de 68, decidiu escrever um livro humoradamente chamado "Mai 68 expliqué à Nicolas Sarkozy". O livro foi já traduzido para português e editado pela Guerra e Paz.

6 comentários:

HB disse...

Por acaso até sou possuidor de uma obra do André Glucksmann que te posso emprestar. Foi uma daquelas aquisições baratas de feira que nunca mais toquei.
Quanto ao conteúdo do texto, e recuperando o post anterior, parece-me que é preciso estar muito atento àquilo que por ai vem, sobretudo no respeitante a uma certa noção de liberdade. Porque, se naquela altura, como frequentemente se diz da guerra actual, vs terrorismo, em contraste com a tradicional, havia um "inimigo" que, às claras, coarctava a liberdade e "esmagava" a criatividade, a imaginação e o livre existir, hoje julgo assistir a um movimento bem mais terrível: um movimento que não se censura mais, em que não há um modelo moral de sociedade que combate outro, "ás claras", mas uma auto-censura do individuo para consigo mesmo, uma penitência individual que busca a redenção.
Penso que aliado ao discurso, perdoem-me tomar esta expressão "tremedista", a nível social, vs os hedonismos, os individualismos, a liberdade excessiva(?!), os neo-tudo-e-mais-alguma-coisa, o próprio individuo tomou para si que era altura de voltar atrás.
É aqui que inscrevo o discurso do Sarkozy. Não acredito que ele julgue isto igualmente, mas vai aproveitar este enjoo que o Ocidente sente para consigo mesmo, e capitalitzar este auto-descontentamento.
Não sei se há razões para este descontentamento. Julgo que há "sintomas" para que, cada um, reflicta e decida como quer viver. MAs o que sabemos das grandes "reviravoltas" da história é que, normalmente, a Humanidade comete os maiores pecados com as melhores das intenções.

HB disse...

Clarifico: sinto que hoje, como em muitos outros domínios já foi dito, também neste caso se vem experiencindo algum desgosto da forma como as coisas decorrem no mundo, e da novidade deste desgosto, isto é, do facto de ele mesmo já não ter um discurso dominante que o sustente, um sistema, uma mundivisão. E muito discurso que por ai anda, refere a LIberdade como algo que se deve repensar. E isto, por si mesmo, já dá que pensar porque todas as revoluções ou mudanças bruscas da história, se fizeram em nome dela.

Nuno Fonseca disse...

(Estive fora esta semana, por isso é que esta réplica vem com efeito de retardamento.)

Fico muito contente de estes posts terem finalmente suscitado alguma reacção - já começava a pensar que tinha de ir pregar para outra freguesia - pois é para isso mesmo que um blog serve.

E sim, é preciso estar sempre atento, pois o perigo do conformismo espreita e o dia do Juízo "chegará como um ladrão, de noite. Quando as pessoas disserem «Estamos em paz e segurança», então de repente a ruína cairá sobre elas, como dores de parto para uma mulher grávida, e não conseguirão escapar." (I Tess 5:2-3).
Mas voltar atrás (para além de nos transformar em estátuas de sal) é agora tarefa impossível, porque a perda da inocência é irreversível. Se o Maio de 68 foi uma revolução de algum tipo, foi na medida em que serviu para fazer disparar o espírito crítico em todas as direcções. E mesmo que isso tivesse por vezes significado o eterno retorno onfaloscópico da crítica sobre si mesma, isso não a condena necessariamente ao desespero e à auto-aniquilição, sabendo porém que o perigo se torna aí, ainda, mais premente. Bem pelo, contrário, essa hiper-consciência deve servir para aprofundar e afinar um "espírito de finura" ao lado de um "espírito geométrico", que desmistifique a infalibilidade da empresa iluminista, mas reconhecendo, no entanto, com humildade, que a razão é a nossa especificidade característica, a nossa condição, e só com ela podemos realizar essa nossa liberdade.

HB disse...

Oh pá, que é um "onfaloscópico". Algum animal exótico?

Nuno Fonseca disse...

Oμφαλoς (Umbigo) + σκοπειν (observar)

Onfaloscópico significa, então, qualidade do que observa o seu próprio umbigo (ou centro, num sentido lato).

Fiquei muito surpreendido de não encontrar esta palavra no dicionário, pois conheço-a há muito tempo. Pelos vistos é vulgarmente usada no castelhano [mas acabo de verificar que também não existe no dicionário de castelhano], mas não tanto em português. Estranhíssimo! Parece que entrei na quinta dimensão.
Fala-se ainda de "omphaloscopia" (esta seria a ortografia se usássemos o ph, e com estas coisas do acordo ortográfico, acho que vou começar a usar) a propósito de "hesychia", uma prática espiritual (no cristianismo oriental) que consiste numa forma de oração ininterrupta, diálogo interior.

Só tenho a dizer que se não está no dicionário, deveria estar!

HB disse...

Eu até fui verificar,antes de questionar. MAs não consegui encontrar em lado nenhum. No Google ainda consegui alguns resultados, mas nenhum explicava o que significava. Fico contente por perceber que afinal não teria que ver a fauna mas com a anatomia.