[René Viénet, La dialectique peut-elle casser des briques? (1973)]
Apesar de seriamente afectado pela acedia nos seus avatares contemporâneos, não poderia deixar passar este mês sem referir esta efeméride. Há quarenta anos atrás a França estava ao rubro com as manifestações de que todos ouviram falar: em Paris, incendiavam-se carros, atiravam-se pedras, colavam-se cartazes e, numa inspiração poética e, simultaneamente, pró e anti-hegeliana, julgava-se na rua o sistema! A ideologia inflamou os espíritos e estes agitaram os corações, fazendo disparar o discurso em todas as direcções, gerando num "jogo livre e harmonioso" entre as faculdades (o entendimento e a imaginação) um movimento infinito de reflexão para produzir um sentimento de prazer (pois é isso que faz a faculdade de julgar, como Kant tão bem explicou). Por isso o slogan "Il est interdit d'interdire" exprime com precisão o espírito de Maio de 68, já que foi o gozo (jouissance) sem limites aquilo que ali se reinvindicou. E se foi a dialéctica nas suas (per)versões marxianas ou maoístas que inspirou o movimento, foi o seu próprio motor - a aufhebung - que ficou trilhado debaixo dos automóveis capotados.
É de sobremaneira conhecido o filão de pensadores e agitadores filosóficos (Deleuze, Guattari, Derrida, Foucault, Lyotard, para citar alguns) que se associou a esse acontecimento, mas foi sobretudo o grupo de artistas-filósofos da Internacional Situacionista (Guy Debord, Asger Jorn, Raoul Vaneigem) que desde meados dos anos 50 foi publicando os textos que preparam aquela explosão ético-estética de Maio. Estes não têm tido talvez o lugar devido nos cursos de filosofia, provavelmente pelo seu ostensivo anti-academismo e pelo seu carácter híbrido, pois tratavam-se de manifestos ao mesmo tempo filosóficos, antropológicos, sociológicos e artísticos, mas não deixam de ser fundamentais para compreender a weltanschauung daquela época que afinal é ainda a nossa.
Aqui ficam algumas ligações para textos e filmes disponíveis online:É de sobremaneira conhecido o filão de pensadores e agitadores filosóficos (Deleuze, Guattari, Derrida, Foucault, Lyotard, para citar alguns) que se associou a esse acontecimento, mas foi sobretudo o grupo de artistas-filósofos da Internacional Situacionista (Guy Debord, Asger Jorn, Raoul Vaneigem) que desde meados dos anos 50 foi publicando os textos que preparam aquela explosão ético-estética de Maio. Estes não têm tido talvez o lugar devido nos cursos de filosofia, provavelmente pelo seu ostensivo anti-academismo e pelo seu carácter híbrido, pois tratavam-se de manifestos ao mesmo tempo filosóficos, antropológicos, sociológicos e artísticos, mas não deixam de ser fundamentais para compreender a weltanschauung daquela época que afinal é ainda a nossa.
Guy Debord - La Société du Spectacle (1967) e o respectivo filme (1973)
Raoul Vaneigem - Traité de Savoir-Vivre à l'Usage des Jeunes Générations (1967)
Outros textos da Internacional Situacionista
O filme na versão integral de René Viénet que parodia os eventos de Maio de 1968.
3 comentários:
Eh pá, este post é da pesada. Ainda não vi os links, mas deixo-te desde logo o meu mais sincero obrigado pela contribuição.
E já agora, obrigado por revelares aquele site o Ubuweb. estive a ver e pareceu-me espectacular. Cheio de coisas que desconheço.
Hip, hip, hurray!
Oh pá (para dar uma tonalidade PREC), no fundo o mérito também é teu ao decidires fazer as limpezas de primavera.
O UBUWEB, de facto, é de uma grande generosidade: um arquivo histórico da arte poético e audiovisual contemporânea. A seguir vai já um post contra-revolucionário ou contra-reaccionário, conforme a perspectiva.
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