domingo, 9 de março de 2008

O fato de Montaigne


À primeira vista trivial, o tema do hábito que têm os seres humanos de se vestir é verdadeiramente um mistério. O Génesis, por mais paradoxal que possa pareceer, terá porventura a melhor explicação científica para o facto e sua origem.

O certo é que se tende a eleger a linguagem como a marca da hominização, mas o recurso aos paramentos também tem qualquer coisa de extraordinário.

Grande observador, Michel de Montaigne (1533-1592) não deixou de se intrigar com tão peculiar costume, que, na verdade, pôde ter consequências notáveis na história da humanidade. Por mais evasivo que possa parecer este ensaio "De l'usage de se vêtir", nele se entrevêem algumas reflexões bem pertinentes. Por exemplo, quando Montaigne diz: "entre a minha forma de vestir e a de um camponês da minha terra encontro bem maior distância do que da forma deste à de um homem vestido apenas da sua pele".

Dir-se-á que no séc. XVI o mundo era diferente, as classes eram mais marcadas e o traje era um dos símbolos de uma classe. Mas hoje, apesar das mudanças, o significado de um fato é ainda abissal. Se os homens andassem nus, será que haveria desigualdades sociais, ou pelo menos as mesmas?

Perdoem-me este disparate, Montaigne não tem culpa. A prova está em http://www.bribes.org/trismegiste/es1ch35.htm.

domingo, 2 de março de 2008

Porthos e a Filosofia



[ Excerto de "Vivre sa vie" (1962) de Jean-Luc Godard]

Depois de um interregno longo por razões pessoais, decidi partilhar um excerto de um filme de Jean-Luc Godard, de que gosto muito, onde Brice Parain, historiador da filosofia responsável, juntamente com Yvon Bellaval, pela famosa Histoire de la Philosophie da Encyclopédie de la Pléiade, editada pela Gallimard, tenta explicar o lugar da filosofia perante a vida, a partir de um exemplo retirado de um famoso romance de Alexandre Dumas.