domingo, 28 de outubro de 2007

3ª Episódio BBC- Nietzsche

Desculpem lá o hiato temporal entre os episódios, mas tem uma justificação quase plausível. O ficheiro é grande e eu queria uploudá-lo (perdoem lá o neologismo disparatado) por inteiro. Acontece que a minha net, porque vivo numa zona periférica aos grandes centros urbanos, não tem a mesma qualidade. Assim, volta e meia, vá, talvez apenas uma volta, ela vai abaixo e cancela o upload. Assim sendo, e depois de muito tempo de angústia, decidi uploudá-lo no rapidshare em quatro partes. Eu sei que é muito e tentei evitá-lo. Mas demorava umas cinco horas no megaupload e a net ia abaixo. Tenham lá paciência e aproveitem.

"Esse escrito, que nem chega a ter cento e cinquenta páginas, de tom sereno e fatídico, um demónio que ri - obra de tão poucos dias que hesito em dizer o seu número -, é a excepção entre os livros em geral: não há nada mais rico em substância, mais independente, mais demolidor... nem mais maldoso. Se alguém quiser fazer rapidamente uma ideia de como tudo, antes de mim, estava posto às avessas, pois comece por ler este escrito. Aquilo, que no fronstispício se intitula Ídolos, é, muito simplesmente, o que, até então, se chamava verdade. O Crepúsculo dos Ídolos - falando sem rodeios: vai-se acabar a velha verdade."

F. Nietzsche, "Como se filosofa com o martelo", in Ecce Homo, Relógio d´Àgua, Lisboa, 2000, p.220

Nietzsche I
Nietzsche II
Nietzsche III
Nietzsche IV

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O Nobel foi ver a bola

Este post não é bem sobre filosofia. Bom, não é bem sobre nada. É, digamos, uma coisa daquelas que, muitas vezes, se diz com espírito e graça que é uma não-coisa. Pois bem, é um não-post. É um não-post sobre Camus. Acontece que, andava eu há poucos minutos no Youtube, e encontro um video de uma entrevista com o Albert Camus. Qual não é o espanto quando a entrevista é feita em pleno estádio de futebol, algures na Argélia, terra natal do filósofo-romancista (cá estamos nós outra vez!), durante um jogo. Como vêem, não há absolutamente nada de filosófico neste não-post. Acabo até de justificar a sua não-pertinência. É apenas engraçado e uma das raras imagens captadas em video dele. Segue o video.

domingo, 14 de outubro de 2007

Querelas entre filósofos

Este "blog" é atravessado por uma lógica histórico-filosófica, não, porém, no sentido dogmático, longe disso, é antes uma motivação zetética a que move este deambular entre ruínas, como é próprio do pensar filosófico. A dinâmica dessa "História da Filosofia" é muitas vezes associada a uma luta constante de ideias e perspectivas filosóficas, nomeadamente entre mestres e discípulos ou entre rivais de escolas de pensamento opostas e, por vezes, entre antigos colegas de escola. Mas a "História" não tem que ser uma colecção de anedotas ou de opiniões, ou seja, não tem que ser uma mera doxografia. E muito menos uma doxografia oficial daqueles que venceram. A "História" da Filosofia para ser profícua tem de estar viva e servir como um laboratório, uma máquina conceptual e virtual de possíveis debates futuros, de filiações imprevistas e reveladora de camadas de sentido como se descascássemos uma cebola, devendo nós, por isso, estar preparados para algumas lágrimas. Mas o propósito deste "post" não era reflectir a natureza da história da filosofia, antes falar do nº da "Magazine Littéraire" deste mês de outubro (e ainda há quem diga que Filosofia e Literatura não têm nada a ver!).
Os que já estão familiarizados com esta revista sabem que todos os meses existe um "dossier" dedicado a um certo tema ou autor, e muito frequentemente com bastante interesse para a filosofia. O deste mês é o das "grandes querelas entre filósofos": Aristóteles contra Platão, Santo Agostinho contra Pelágio, Abelardo vs. São Bernardo (a grande Querela dos Universais), Descartes vs. Espinosa, Voltaire contra Rousseau, Rousseau vs. Hume, Nietzsche contra Schopenhauer (discípulo revoltando-se contra o mestre), Husserl versus Heidegger, Bertrand Russell vs. Ludwig Wittgenstein e este contra Popper (a história do tição!), Sartre contra Merleau-Ponty (os males do comunismo) e, ainda, Derrida contra Foucault! A ideia geral é de que embora as oposições sejam geralmente a propósito de diferenças filosóficas de fundo, muitas vezes existem também fricções pessoais (frequentemente precedidas de fortes amizades).

"L’art de la polémique remonte à la plus haute Antiquité. « Polemos [le conflit] est le père de toutes choses et le roi de toutes choses », affirmait Héraclite. Toute l’histoire de la philosophie grecque peut se résumer à une succession de disputes. Oscillant entre débats théoriques et attaques personnelles, entre réfutation et invective, cette pratique de la controverse, longuement rodée dans les dialogues platoniciens, n’a cessé d’échauffer les philosophes. Au milieu du XIXe siècle, Schopenhauer en reformulait les règles et les ruses dans un court traité, joliment intitulé L’Art d’avoir toujours raison. Énumérant trente-huit stratagèmes, le philosophe enseignait comment avoir raison à tout prix en sapant les arguments de l’adversaire et en se montrant de plus mauvaise foi que lui. Après avoir suggéré maintes astuces, feintes et pro­vocations, Schopenhauer conseillait comme ultime recours l’attaque ad personam, en se montrant « dé­sobligeant, hargneux, offensant, grossier ».
Ce dossier du Magazine littéraire se fait l’écho des invectives, insultes, railleries et injures diverses que se sont lancées les philosophes durant deux millénaires. On nous reprochera peut-être de rapporter des chamailleries parfois dignes d’une cour de récréation. « Les polé­mistes me dégoûtent », disait Bernanos, se repentant des éreintements dont il accabla tant de ses contemporains. La polémique, quand elle relève de la manie, est vaine, voire dégradante. Mais elle sait être salutaire quand elle surgit avec à-propos pour aviver le débat. Elle s’apparente alors à une joute où il s’agit moins de terrasser l’adversaire que d’enrichir une réflexion commune.
Ce dossier se veut une illustration du bon usage de la dialectique. Il retrace par le menu les duels les plus fameux, et les plus féconds, de l’histoire de la philosophie. « La controverse est souvent bénéfique à l’un comme à l’autre, du fait qu’ils frottent leurs têtes entre elles, et sert à chacun d’eux à rectifier ses propres pensées, et aussi à concevoir des vues nouvelles », conclut dans son traité Schopenhauer qui, décidément, avait l’art d’avoir toujours raison."

Jean-Louis Hue, "Des bienfaits de la controverse", Magazine Littéraire, nº 468, Octobre 2007.

O clássico "Qu'est-ce que la philosophie?"

"Talvez só tarde na vida se possa pôr a questão O que é a filosofia?, quando chega a velhice, e a hora de falar concretamente. De facto a bibliografia é muito escassa. É uma questão que se põe no meio de uma discreta agitação, à meia-noite, quando não há mais nada a perguntar. Antes púnhamo-la, púnhamo-la incessantemente, mas era tudo demasiado indirecto ou oblíquo, demasiado artificial, demasiado abstracto e expúnhamo-la, dominávamo-la de passagem mais do que éramos apanhados por ela. Não éramos suficientemente sóbrios. Tínhamos um desejo excessivo de fazer filosofia, não nos interrogávamos sobre o que ela era, a não ser por exercício de estilo; não tínhamos ainda atingido esse ponto de não-estilo em que se pode finalmente dizer: mas o que era isto que eu andei a fazer durante toda a vida?"

Gilles Deleuze e Félix Guattari, "O que é a filosofia?", tr. Margarida Barahona e António Guerreiro, Editorial Presença, Lisboa, 1992.

Não posso ainda, como é óbvio, na minha ébria juventude responder a uma tal pergunta, mas posso ter a audácia e a impiedade de a colocar, ou, pelo menos, de discutir as suas variações ou os seus avatares, pela forma como fui interpelado pelo "post" sobre "Pessoa e a Filosofia" e que, no mínimo, me "desassossegou".
Porque estas agitações foram desde logo provocadas pelo texto de Bernardo Soares, surgem assim os problemas da fronteira entre Filosofia e Literatura e da legitimidade filosófica de um autor fora da tradição académica. A proposição "filosofia é aquilo que os filósofos fazem" poderia ser tentadora para resolver liminarmente a questão, mas só poderia ter alguma virtude se se soubesse o que é um filósofo e se depois se pudesse descrever aquilo que ele faz. Porém, mesmo que formalmente verdadeira, não deixaria de ser uma proposição inadequada para responder ao problema da definição, pois é flagrante quando se lê essa passagem do Livro do Desassossego que há ali uma dimensão filosófica que nós intuímos, ainda que não saibamos exactamente o que é isso de filosofia. E fácil é induzir, pela experiência que cada um de nós concerteza já teve a ler um livro ou a ver um quadro, que há muito boa gente fora da filosofia, enquanto prática académica, que tem assim momentos de "lucidez filosófica". De facto é isso mesmo que é magistralmente descrito nesse excerto do Bernardo Soares, a experiência de um momento de lucidez, uma iluminação. Há dois dias, durante a Jornada de Homenagem a Fernando Gil, ouvi alguém, que já pensou seriamente estas questões da natureza da filosofia, dizer que a "Filosofia é um esforço de clareza". Parece haver, pois, uma coincidência essencial entre a experiência de Bernardo Soares e o trabalho de um filósofo. Mas há uma diferença, também ela essencial, pois enquanto a "iluminação" de Soares a meio da noite surge como uma revelação instantânea que segundo ele confessa, "foi um momento, e já passou", o "esclarecimento" que constitui o trabalho dos filósofos é um caminho dialéctico (esqueçamos por um momento as conotações "maléficas" do sistema hegeliano ou o que foram as suas interpretações e recuperemos um sentido mais "clássico" do termo dialéctica), um esforço "metódico" de polir, trabalhar os conceitos (criando-os até, para seguir a proposta de Deleuze e Guattari - o que não é o mesmo que os inventar), atraídos por essa luz (não necessariamente monofontal, mas talvez multifocal, ou até, porque não, estroboscópica), a que à falta de outro nome se pode chamar "verdade". (A luz não tem é que ser transcendente, podendo ser imanente a um plano de pensamento; mas esse é outro problema e remeto-vos para o livro citado, que é uma excelente introdução para quem já anda nisto há algum tempo.)
Há, porém, outra perspectiva para o problema das margens da filosofia onde a Literatura se faz, muitas vezes confundir, com a Filosofia. No último século, houve como sabemos alguns pensadores que forçaram a relação do estilo literário com o trabalho da filosofia. É verdade que já lá vão muitos séculos desde o abandono da anonimidade escolástica e que os esforços para universalizar/objectivar o discurso e para anular as fáceis tentações da subjectividade não têm tido muitos frutos no "meio filosófico" (uma espécie de "comunidade científica" na semântica kuhniana). E concedendo que a voz filosófica não pode deixar de ser pessoal, encarnada num corpo e numa experiência de vida, também digo que essa voz pessoal não pode ser confundida com um exercício de estilo que redunde na particularidade dessa experiência (aliás, nem mesmo a literatura pode ser apenas isso), mas que a sua concretude sirva apenas para "situar" e "contemporaneizar" um trabalho filosófico que só pode interessar aos outros e a uma eventual história da filosofia, se tiver uma vocação universal ainda que projectada de um ponto ou pontos de singularidade.
Isto não impede, que se reconheçam certos escritores como mais "filosóficos" do que outros, entre os quais facilmente reconheço alguns heterónimos de Fernando Pessoa, Jorge Luís Borges, Goethe, Kafka, Sade (este é facilmente arguível como praticamente um "profissional" da filosofia) ou mesmo alguns poetas, mas esses são por vezes mais músicos do que filósofos. Não me vou ainda pronunciar sobre as relações da Filosofia com a Teologia ou se os místicos medievais são filósofos, para não prolongar demasiado este "post" mas lá irei.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Heidegger



























Deixo aqui o segundo episódio da série "Human All Too Human" da BBC. O próximo será sobre Nietzsche. Tentarei colocá-lo online o mais breve possível.

Heidegger 1, 2, 3, 4

Pessoa e a Filosofia

É tarde e estou cansado. Deixo aqui, por isso, apenas um apontamento. Nos últimos tempos, a par da leitura oportuna de Dostoievski e Gogol (Os "contos" são espectaculares e só custam 5 euros na nova colecção da Biblioteca Independente), reflecti novamente sobre uma questão que me tem surgido com alguma frequência. A da natureza da filosofia e da legitimidade do seu discurso.
Até que ponto é a Filosofia um discurso padronizado, ancorado na história e que obedece a regras hermenêuticas, de interpretação, estabelecidas. Até que ponto existe a "boa" e a "má" Filosofia? Isto para não atirar já com o clássico "O que é a filosofia?". Deve um discurso procurar legitimar-se para ser reconhecido como filosófico? Pergunto isto depois de, há pouco, ter lido uns trechos de Pessoa. É que me parece, a par de Dostoievki e Gogol, que Pessoa estará muito mais perto de descobrir alguma coisa do que muitos filósofos. Aqui talvez tivéssemos mesmo de colocar a questão da especificidade do discurso filosófico e da sua distinção da literatura e de um certo exteriorizar das emoções. Mas eu pergunto, não poderá a filosofia ser apenas uma voz pessoal, ancorada na experiência (porque não empírica?) da vida, transmitida de todas as formas possíveis e imaginárias, dirigida à humanidade sem com isso se preocupar muito, desinteressadamente, e não um discurso legitimado pela história e tradição? A filosofia, a meu ver, nasce porque tem que nascer em cada um. Uns mais do que outros, são questionados. As respostas surgem e são escritas, legadas à humanidade. A humanidade aceita ou rejeita, e uns sobrevivem, outros não. Os que sobrevivem, são os que fazem parte da História. Mas que forma deve ter este discurso? Enfim, tem que ter forma? É Pessoa filósofo? Será o misticismo medieval Filosofia? Ou será que a Filosofia é exclusivamente uma analítica moderna?

Deixo-vos o trecho que li:

«De repente, como se um destino médico me houvesse operado de uma cegueira antiga com grandes resultados súbitos, ergo a cabeça, da minha vida anónima, para o conhecimento claro de como existo. E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo qanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e de loucura. Maravilho-me do que consegui não ver. Estranho quanto fui e que vejo que afinal não sou.
Olho, cmo numa extensão ao sol que rompe nuvens, a minha vida passada; e noto, com um pasmo metafísico, como todos os meus gestos mais certos, as minha ideias mais claras, e os meus propósitos mais lógivos, não forma, afinal, mais que bebedeira nata, loucura natural, grande desconhecimento. Nem sequer representei. Representaram-me. Fui, não o actor, mas os gestos dele.
Tudo quanto tenho feito, pensado, sido, é uma soma de subordinações, ou a uma ente falso que julguei meu, por que agi dele para fora, ou de um peso de circunstâncias que supus ser o ar que respirava. Sou, neste momento de ver, um solitário súbito, que se reconhece desterrado onde se encontrou sempre cidadão. No mais íntimo do que pensei não fui eu.
Vem-me, então, um terror sarcástico da vida, um desalento que passa os limites da minha individualidade consciente. Sei que fui erro e descaminho, que nunca vivi, que existi somente porque enchi tempo com consciência e pensamento. E a minha sensação de mim é a de quem acorda depis de um sono cheio de sonhos reais, ou a de quem é liberto, por um terramoto, da luz pouca do cárcere a que se habituara.
Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê.
É tão dificil descrever o que se sente quando se sente que realmente se existe, e que a alma é uma entidade real, que não sei quais são as palavras humanas com que possa defini-lo. não sei se estou com frebre, como sinto, se deixei de ter febre de ser dormidor da vida. Sim, repito, sou como um viajante que de repente se encontre numa vila estranaha sem saber como ali chegou; e ocorrem-me esses casos dos que perdem a memória, e são outros durante muito tempo. Fui outro durante muito tempo - desde a nascença e a conciência - e acordo agora no meio da ponte debruçado sobre o rio, e sabendo que existo mais firmemente do que fui até aqui. Mas a cidade é-me incógnita, as ruasnovas, e o mal sem cura. Espero, pois, debruçado sobre a ponte, que me passe a verdade, e eu me restabeleça nulo e fictício, inteligente e natural.
Foi um momento, e já passou. Já vejo os movéis que me cercam, os desenhos do papel velho das paredes, o sol pelas vidraças poeirentas. Vi a verdade um momento. Fui um momento, com consciência, o que os grandes homens são com a vida. Recordo-lhes os actos e as palavras, e não sei se não forma também tentados vencedoramente pelo Demónio da Realidade. Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si, de repente, como neste momento lustral, é ter subitamente a noção da mónada íntima, da palvra mágica da alma. Mas essa luz súbita cresta tudo, consome tudo. Deixa-nos nus até de nós.
Foi só um momento, e vi-me. Depois já não sei sequer dizer o que fui. E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir.»

Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego, §39

sábado, 6 de outubro de 2007

Sartre é cool!

Para abrir as hostilidades preferi postar aqui alguma coisa sobre Sartre. Para alguns, mas talvez não todos, foi audível outrora a magna sentença académica de que "o Sartre-filósofo não vale nada". Não vale a pena conhecer a origem da inspiração (que deu a entender, entre muitas outras coisas que Descartes ou Kant seria responsável por uma calamidade filosófica de proporções "egofalologocêntricas"), mas serve a referência para não começarmos este blog sem fazer uma menção, ainda que silenciosa, a uma das figuras mais queridas da nossa formação académica (e que, pelos vistos, se mantém obsessivamente no nosso imaginário).
É, pois, com esta imagem em mente, que coloco aqui, simbolicamente, um episódio da série da BBC "Human all too human". A série compõe-se de três episódios sobre três figuras que, senão marginais na história da filosofia (uma delas não o é de facto), são altamente subversivas nas propostas. São, as três ícones de um certo pensamento contra-corrente, duro, livre (o que é, admitamos, discutível). Essas figuras são Nietzsche, Heidegger e Sartre. Heidegger ainda foi um filósofo recorrente na formação filosófica conimbricense; já Nietzsche constituiu sempre um enigma tal dado o contraste entre a força da sua evocação entre todos, e a sua ausência de qualquer currículo, como uma qualquer sala fechada da qual saiam, de tempos a tempos, misteriosos, e apelativos, sons, mas cuja entrada parecia proibida por uma razão nem sempre explicada; Sartre foi, como já se viu, marginalizado. A forma como sempre se lhe referiu o discurso dominante, superior, sério, importante, contra um filósofo que se terá sempre enganado, e que não era senão uma cópia do original alemão (leia-se, Heidegger), marcou, tacitamente, a imagem que dele se cultivou durante algum tempo.
Não pretendo alongar-me mais com esta introdução. Os restantes episódios serão igualmente postados no blog. A ordem é a supracitada, mas subverto-a como um acto de rebeldia, tardio eu sei, mas nunca tarde demais.

"Contra-historiadores da filosofia de todos os países, só mais um esforço!"

Episódio Sartre