quinta-feira, 31 de julho de 2008

Philogelos

Chegou o Verão (há já quarenta dias, pelas minhas contas, mas não faz mal). É tempo de descontrair, ir para a praia ou ir viajar, romper com a rotina... mas a filosofia nunca vai de férias! E, mesmo a brincar, parece que está sempre em actividade. Dir-se-ia que os filósofos não sabem ou não conseguem brincar. Com efeito, os filósofos não são muito famosos pelo seu sentido de humor, mais facilmente serão retratados como seres melancólicos, com os olhos perdidos no infinito a pensarem ...na morte da bezerra! É que, apesar disso ou talvez por isso mesmo, as primeiras obras que contaram histórias de filósofos, apresentaram-nos como seres tão alheados da realidade e do presente, que caíam em poços. São assim listas de anedotas as primeiras "histórias de filósofos". Mas a história da filosofia (que, apesar das aparências, não é a mesma coisa) raramente conta anedotas. Aliás, a relação das anedotas e do riso, salvo raras mas conhecidas excepções, com a filosofia não é das mais evidentes. (Já a ironia e o sarcasmo dos filósofos são uma outra história.) O philosophos não é um philogelos, ou seja, o amigo da sabedoria não é (não parece) um amigo do riso. Porém, a história dos filósofos é quase tão antiga como a história das anedotas. A mais antiga recolha de anedotas gregas dos séculos IV-III a.c. chamou-se precisamente Philogelos e tem visto nos últimos anos algumas re-edições e traduções em várias línguas. Algumas anedotas podem ler-se aqui em inglês. Quem quiser comprar ou ler em francês, este ano saíu uma edição extremamente barata na pequena colecção da Mille et Une Nuits (3 Euros!)

E com
o estamos de férias, porque não falar também da filosofia através de anedotas. Foi do que se lembraram Thomas Cathcart e Daniel Klein, dois colegas de curso em Harvard nos inícios de 60 que decidiram agora juntar esforços para dar algum sentido de humor às ideias filosóficas em "Plato and a Platypus Walk Into a Bar – Understanding Philosophy Through Jokes", acabadinho de ser editado em paperback pela Penguin (a edição hardback é do ano passado), mas também em “Aristotle and an Aardvark Go to Washington” (editado este ano pela Abrams Image) e na futura edição de “Heidegger and a Hippo Walk through Those Pearly Gates.” Os senhores têm um site em construção, onde explicam o propósito do livro e o promovem, aqui. O primeiro livro já foi traduzido em várias línguas, mas ainda não há um "Platão e um ornitorrinco entram num bar...". Para quem preferir em francês, as Éditions du Seuil já se adiantaram num previsível êxito editorial.

Estas leituras foram-me sugeridas pelo número de Julho-Agosto da revista Philosophie Magazine, para quem não conhece, aqui.
Isto (não) é publicidade!

4 comentários:

HB disse...

Excelente post, a indiciar férias. Se a amazon não demorasse a entregar os livros, ainda ponderava adquiri-lo e lê-lo nestas férias. Mas acho que já não ia a tempo.
Nesta temática, lembro-me que, quando era mais jovem, há alguns anos atrás, encontrei um livro de BD sobre filosofia. Era um livrinho onde se empreendia uma história da filosofia aos quadradinhos. Era engraçado, e o interesse por ai se ficava.
De resto, e derivando um pouco, julgo que os franceses não se enganam quando empreendem projectos deste género. Afinal, a filosofia como produto necessita de um lobby, de uma divulgação como todos os géneros de mercado. Isto num primeiro nível; depois, claro está, a coisa complica. Mas quem a pratica, ainda mais no sentido que lhe dá o Pierre Hadot, como "exercício espiritual", talvez se visse menos incompreendido e isolado se esse trabalho de bastidores fosse uma realidade.

HB disse...

Já me esquecia. Umas boas férias a todos. Obviamente, com muita filosofia.

Nuno Fonseca disse...

Uma anedota filosófica:

- Porque é que um filósofo nunca está de férias?
- Porque as férias são uma condição de possibilidade da filosofia!

(careta de malucos do riso)

HB disse...

Isso é muito freak dude!